terça-feira, 10 de novembro de 2009

Diga-me com quem andas...

Fui criada por mãe canceriana, que fazia da nossa casa uma festa permanente. Aquela casa que recebia todo mundo, as amigas das três filhas, das sobrinhas, mais os amigos dela e os amigos dos amigos.
Também meu avô paterno tinha em Correias, Petrópolis, uma casa grande, onde cada um de seus 6 filhos tinha dois quartos, 1 para o casal e outro para os filhos do casal. Éramos 18 netos reunidos quase todos os finais de semana e todas as férias, de Dezembro a Março. Uma farra.
Acho que por isso, adoro casa cheia e receber amigos.

Ter um blog é quase como ter uma casa virtual.
O blog é pra mim uma extensão deste espaço de prazer, do prazer de receber amigos.

Ainda não consegui que as visitas gerem muitos comentários online.
Ainda estou em busca de um layout mais amigável para esta interação.
Mas ainda assim, tenho recebido emails deliciosos, de amigas e amigos que tem circulado por aqui, e me escrevem dando retorno de suas visitas.

Hoje de manhã, antes de sair de casa para encarar a segunda etapa das provas do vestibular da UFAC, que estou fazendo (isso mesmo, estou fazendo vestibular...pasmem!), recebi este email de Jane Vilas Boas, assessora da Senadora Marina, amiga querida, cidadã acreana por opção, assim como eu, que depois de visitar o blog, mandou suas impressões sobre a conversa do Caetano sobre Marina e Lula.

Papo fino. Reflexão super elegante (como não poderia deixar de ser...), que com consentimento dela, publico pra vocês.

E lembro que em casa também aprendi aquele velho ditado, "diga-me com quem andas, que te direi que és".
E por isso gosto de exibir meus amigos, que sempre me fazem melhor do que eu seria sem eles.
E continua a conversa...

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Bia,

Bom começar o dia, a semana vendo seu blog...

Bom ver que há maneiras de dizer e interpretar que não se esgotam quando há diálogo. Sua interpretação do que Caetano disse é muito legal. No entanto para mim talvez o problema seja a escolha que ele fez das palavras para dizer o que ele disse. Assim, o problema é que ele disse com uma palavra que já virou um signo clássico - um significante colado em um significado que não muda: analfabeto diz para a maioria das pessoas que se trata de alguém sem a capacidade mínima de leitura, seja gráfica, seja simbólica. É preciso estar alinhada, simpática, ter intimidade com quem disse para entender de outra forma essa palavra tão marcada. Com todos esses requisitos para ser compreendido - e certamente ele, Caetano, sabe disso - dizer dessa forma é correr riscos. Mas certamente ele não tem medo disso, aliás deve ser lúdico, né?

E se você me permite, acho que as escolhas dos Lula pelo "nós vai" literal ou não, é um esforço de inclusão, de resgate de identidades, de oferta de um espelho para os que nunca o tiveram colocados em lugares até agora tão específicos para a elite (também em todos os sentidos que elite tem).

É uma escolha boa? Acho que não. Mas é opinião minha. Respeito a escolha que ele faz e aí não se trata de ser analfabeto, mas de fazer uma leitura política própria da representação popular, da qual se pode discordar mas não supor que é incompetente ou ignorante. E tenho dúvida se nos começos certas coisas já não cabem mais. Acho que o governo Lula fez mudanças boas e grandes em nosso país, em todos os setores, inclusive no ambiental. Mas ainda não viraram valores dominantes essas medidas, não viraram cultura nacional. Ainda pode retroagir muita coisa. Por isso tenho dúvidas se os esforços de todos os tipos já estão desnecessários, mesmo que discorde da tática.

Quanto a Lula não ouvir, não concordar com nossa visão de como estar no mundo e interagir com ele, também não acho que seja ignorância. Não do Lula. Ele ouviu muito a Marina, participou de reuniões enormes com muitos órgãos do governo tratando de temas estratégicos do meio ambiente. Ele tem outras convicções formadas a partir de muitos conteúdos de boa qualidade e por sua história de vida sindical, urbana, industrial. Ele não valoriza essa outra visão que é nossa. Por isso a Marina saiu do PT. Ficou claro que não havia nenhuma chance de ter sua visão acolhida e incorporada. E não era por fragilidade de informação dos líderes petistas. Era por uma convicção forte, de qualidade, orientada para outro rumo. Se houvesse alguma chance de diálogo, acúmulo de informação, revelação do novo, etc. a Marina teria ficado e lutado. Acho que se Lula fosse analfabeto teria havido uma chance. Mas vendo as coisas dessa forma que expus agora, ficar seria a alternativa consequente de subestimar a sofisticação do pensamento desse grupo, a densidade de seus conteúdos e, dessa forma ficar seria perder tempo tentando algo que não acontecerá. Por isso ela saiu.

Quanto a Mangabeira, de novo acho que há dificuldades entre forma e conteúdo. Quando ele fala de soerguimento é a forma. O conteúdo de soerguimento para ele é o que consideramos velho. Tem estratégias arcaicas, tem certezas calcificadas em molho acadêmico de outra história, outra cultura. E tem uma visão que subestima a criatividade e a consistência dos saberes locais. Sem eles as mudanças não serão construídas, mas impostas. E o Mangabeira jamais quis usar o que ele conhece para dialogar com os saberes da região, ele tem certeza de que sabe o que fazer. Isso é muito arrogante e, com o poder na mão, se torna perigoso.

Me encanta te saber tão inteligente e sofisticada por pura porosidade em relação a tudo que você teve ao alcance dos olhos, dos outros sentidos e do pensamento. Viva você!

Beijo,
Jane

4 comentários:

Fernanda Basso disse...

Oi Bia!
Acabei de ficar sabendo do Amazone-se e vim conhecê-lo! Legal! É ótimo atualizar fatos, pensamentos e sentimentos que rondam a acreanidade por adoção!!!
A gente se encontra, no espaço virtual ou nas reuniões do FDL!
Bom blog prá você!!!
Fernanda

Bia Saldanha disse...

Oba Fernanda! Adorei sua visita. Volte sempre!!! Beijão

f tavares disse...

bialinda,
gostei muito do que escreveu a jane. aliás, quem meus queridos beija, minha boca adoça... daí que já sou amigão dela! achei razoável a versão da jane sobre a opção do presidente-galilei pela linguagem simplória, mas depois dessa incursão do sabichão pela anatomia da mãe-terra, a mobilidade das nuvens poluídas e nem sei mais o quê, com certeza nossa amiga vai repensar a esperteza do vaidoso...
beijos e saudade, FT

Débora disse...

Nessa varanda de estar, trocando idéias... e gostando da conversa...

Tem escolhas que fazemos por ignorância. Não saber. Mas tem aquelas que são por opção mesmo. Nesse sentido, nosso presidente é mais limitado de pensamento do que iletrado. Ele não acredita na sustentabilidade, e ponto.

Valeu Lula, agradecida pelo que foi feito... mas tá bom nêgo. Nós precisamos de MAIS...