quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Onde o vento faz a curva...

O Acre é realmente quente...
Além da temperatura, dizem os cientistas que estamos aqui num hot spot de biodiversidade.
E se levarmos em conta quantas coisas acontecem por aqui ao mesmo tempo, temos que falar que tb por isso aqui é quente!
Neste pequeno estado que fica aqui onde o vento faz a curva, não dá pra passar uma semana sem surpresas...
Semana passada, além da coruja, até OVNI circulou pelo céu de Rio Branco.
Depois os ufólogos jogaram água fria dizendo que era avião, mas até que tudo fosse esclarecido, tinha gente já fazendo as malas para ir surfar na via láctea.

No meu caso, a rotina não está fugindo à regra.
A novidade do momento, é que fui convidada para ir a COP 15 em Kopenhagen em Dezembro.
Depois darei mais detalhes, mas por ora digo que estou super feliz com a oportunidade de ir assistir ao vivo e a cores as negociações dos novos acordos mundiais sobre o CLIMA, mesmo que de longe, sem apitar nada.

Nos últimos meses, por conta do Plano Estratégico da Borracha do Acre, que estou coordenando, tenho estado às voltas com este tema.
Estou estudando, participando de cursos, seminários, e adorando saber um pouquinho mais sobre este assunto.
Meu objetivo é introduzir nas cadeias produtivas da sociobiodiversidade, o componente de "prestação de serviços ambientais", ou simplesmente PSA (ou PES, em inglês), e com isso gerar aumento de renda para as comunidades extrativistas e conservação de biodiversidade. Sempre isso!

As fórmulas para cálculo de emissões, e não emissões, são super complexas, mas o raciocínio do REDD é razoavelmente simples: Quem tiver florestas e se comprometer a conserva-las, evitando o desmatamento e a degradação, pode cobrar algo por isso.

Seja no mercado regulatório, que depende da inclusão das florestas nos acordos oficiais entre as nações, que serão fechados em Kopenhegen e/ou pós Kopenhagen, ou no mercado voluntário, como aquele que permitiu o acordo entre o Acre e a SKY, há hoje em curso uma nova fórmula de valorização deste "ativo florestal".
Surgem com isso oportunidades para as populações tradicionais da Amazônia serem remuneradas pelo importante serviço que vem prestando há séculos, de conservação da biodiversidade e principalmente, o que hoje é mais claro que nunca, de conservação das condições de vida em todo planeta!

Explico:
A partir do estudo das imagens de satélite que vêm sendo colhidas nos últimos anos, os cientistas não tem mais dúvidas quanto ao papel decisivo das florestas tropicais na formação das chuvas em todo planeta.
As florestas funcionam não só como fabricantes de água, mas também como bombas d'água que distribuem chuvas para o mundo.
Uma imagem muito linda que recebi num desses cursos, é de que em cima da Amazônia, no céu, corre um rio atmosférico, muito mais caudaloso que o Rio Amazonas...Achei isso o máximo!!!

E outra coisa que adorei, foi saber como funciona o fluxo deste rio atmosférico.
A grosso modo seria assim:
As chuvas são formadas, entre outras coisas, pela evaporação das gotas d' água que ficam armazenadas nas copas das árvores. Com os ventos que vem dos oceanos, do Caribe principalmente, são empurradas para dentro do continente, aqui pelo Norte; ao se depararem com a Cordilheira dos Andes, os ventos passam a correr para o sul da América Latina, sendo responsáveis por, praticamente, todo o regime de chuvas do sul do continente...

Ou seja, é aqui que o vento faz a curva!!!

Se fôssemos todos sãos, não precisaríamos muito mais que isso para que os chefes das nações, especialmente o governo brasileiro, se responsabilizassem de forma permanente e irrevogável com a conservação desta floresta.
Mas não é bem assim...
Por isso os entendidos estão bastante céticos com relação as discussões da COP15 e do que vem a seguir.
De qualquer forma, que tal ficarmos a refletir:
E se parasse de chover???

Um comentário:

Unknown disse...

Que legal!! Existem alguns tempos em que somos arrastados pelos bons ventos para as coisas importantes da vida.Aproveite.